terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sustentabilidade

O assunto do momento é sustentabilidade. Morando em Viena percebi que a preocupação com o meio ambiente está presente não apenas na pesquisa, na política e no desejo das pessoas. A sustentabilidade está em todos os lugares e, principalmente, nos pequenos gestos que são repetidos diariamente e por toda a população. Muitas ideias simples podem ajudar o planeta desde que exista um esforço conjunto da sociedade e dos governos. Não basta você reciclar o lixo dentro do seu apartamento se não existir coleta seletiva na sua rua. Não basta uma única casa economizar água e energia se o resto das pessoas do mesmo quarteirão não fizerem o mesmo. As ideias existem e o que falta é a ampla divulgação e conscientização dessas ideias. Aqui vou listar alguns exemplos simples do cotidiano vivido em Viena. Para começar, vamos ao supermercado.

A primeira vez que entrei em um supermercado foi muito estranho. Existe uma espécie de catraca que abre automaticamente com a aproximação dos clientes e apenas em um sentido, ou seja, para sair não dá para virar as costas e voltar. Muitas vezes é preciso percorrer o mercado inteiro para encontrar a saída. Outro costume diferente do nosso é que os carrinhos ficam presos por cadeados e para utilizá-los é preciso depositar uma moeda no valor (acho) de 1 euro. Como nunca utilizei um carrinho, não sei dizer se é realmente este valor, mas o importante é que esse dinheirinho volta! Com o tempo eu me acostumei e aprendi a segurar tudo com as próprias mãos e braços. Acho até que posso tentar um bico de garçonete depois desse treinamento! Mas voltando a sustentabilidade... é possível encontrar nos supermercados de lá vários produtos com alças nas embalagens. Como, por exemplo, engradados de bebidas e pacotes de papel higiênico. Tudo com alça para ser carregado e, o mais importante, sem o uso das famosas sacolinhas de plástico.


Essa semana a notícia de que o consumo de sacolinhas de plástico no Brasil diminuiu 20% em 3 anos é comemorado. As medidas adotadas por (apenas) alguns supermercados aqui são: oferecer sacolas mais resistentes e que aguentem o peso de mais produtos diminuindo assim o número de sacolinhas utilizadas, oferecer caixas de papelão para serem utilizadas no lugar das sacolas de plástico ou ainda dar um desconto de R$0,03 para cada sacola não utilizada.

Bom, nos supermercados de Viena a medida é simples e radical. Não tem sacolinha de graça. Simples assim. Não tem. Ou você leva a sua própria sacola de casa ou então você tem que pagar de €0,30 a €0,50 cada uma. Tudo bem que quem converte não se diverte, mas converte ai. Converteu? Agora imagine você ir ao supermercado e pagar quase 1 real por sacolinha? No começo eu fiquei revoltada e pensei "Como que aqui eles não fornecem sacolas no mercado?". Eu sempre esquecia de levar a sacola e toda vez tinha que comprar uma nova. Comprei várias e sempre reclamando do sistema. Quantas vezes eu voltei da porta do prédio até o apartamento só para pegar a minha sacolinha. Até que criei o hábito de carregar sacolas dentro da bolsa ou da mochila. Parei de reclamar e comecei a aplaudir essa ideia.

Do supermercado para o banheiro. Em vez de utilizar toalhas de papel, lá eles utilizam toalhas de pano que são lavadas e esterelizadas (espero) para serem utilizadas novamente. Achei tão diferente que até gravei um vídeo.




Nas salas do instituto e até nos restaurantes as luzes ficam apagadas a maior parte do tempo. Elas são acesas somente se a luz do sol não iluminar o suficiente.

Caronas são oferecidas facilmente. Nem é preciso pedir.

As pessoas utilizam muito o transporte público. Até aquelas que tem carro. Mas isso já é um pouco mais complicado aqui no Brasil, uma vez que não temos transporte público que atenda todas as necessidades da população, se é que podemos chamar o que nós temos aqui de transporte público. Realmente, fica difícil comparar o metrô que temos aqui com um metrô que chega no horário e com intervalos precisamente cronometrados, limpo, amplo (na sua cobertura), rápido, com lugares para todos e barato (se levarmos em conta que o bilhete pode ser usado várias vezes durante todo o dia). Só para complementar, o transporte público em Viena conta ainda com ônibus, S-bahn (trem rápido que faz ligação com os subúrbios) e bonde.

Estação de metrô (U-bahn)


Estação de trem (S-bahn)


Bonde

Mapa do transporte público

Esses são apenas alguns exemplos. Existem vários outros. E você viu como as ideias são simples? Usar sacolas recicláveis, apagar as luzes, fechar a torneira, fazer xixi no banho, utilizar o transporte público (quando der), reciclar o lixo, dar carona, e muitas outras. São ideias simples que podem ser adotadas imediatamente e que teriam um efeito considerável se colocadas em prática no dia a dia de toda a população.

Confesso que eu adoraria ver os supermercados no Brasil adotando a estratégia de cobrar pelas sacolinha de plástico. Fico imaginando se isso iria dar certo aqui! Será que as pessoas deixariam de ir em um determinado supermercado se ele cobrasse pelas sacolas? Será que as pessoas aprenderiam a levar as sacolas de casa?


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Complementando a discussão sobre as sacolinhas, descobri que existem leis e projetos de lei nos estados que regulamentam o uso das sacolas de plástico. No Rio de Janeiro, por exemplo, a lei é de 15 de julho de 2009 aplicável em estabelecimentos de médio e grande porte. No dia 16 de julho de 2010 a fiscalização começou e alguns estabelecimentos foram multados porque em 1 ano não se adequaram à lei. Os estabelecimentos comerciais de pequeno porte terão mais um ano.

"A lei determina que esses estabelecimentos cumpram um dos três itens especificados pela nova legislação: oferecer gratuitamente para o consumidor sacolas retornáveis; ou desconto de R$ 0,03 para cada cinco itens ao cliente que não utilizar as sacolas plásticas para acondicionar suas compras; ou posto de coleta para que os consumidores possam devolver 50 unidades desses sacos plásticos e receber um quilo de arroz ou feijão", disse a secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos (aqui).

Mais do que a obrigatoriedade da lei que atua sobre os estabelecimentos, nós que somos os consumidores temos que nos conscientizar e levar as nossas próprias sacolinhas para o supermercado, feira, ou aonde quer que a gente vá. Claro que não é fácil lembrar de levar a sacolinha de casa, sobretudo se elas são oferecidas de graça, por isso a ideia de cobrar por cada uma é interessante. Muitas vezes quando o bolso dói a cabeça começa a funcionar melhor. E como bem lembrado pelo comentário da Luana, as compras semanais em vez das mensais diminuem o desperdício e também o consumo de sacolinhas. Experimente e comprove! Ah, e existem tantas sacolas recicláveis fofinhas. Olha essa que eu tenho na foto abaixo. Sem ocupar muito espaço ela pode ser carregada facilmente dentro da bolsa e em segundos se transforma em uma discreta, resistente e sustentável sacola multiuso!



6 comentários:

  1. Muito bom!

    Uma coisa que me chamou atenção nos supermercados, é que não são tão "super" assim. Comparando com os nossos, são uns mercadinhos de bairro. Não vi aqueles carrinhos de compras enormes, então tive a impressão de que os europeus vão ao mercado mas não fazem feira de mês, como nós. Menos desperdício, né?

    Não lembro em qual cidade vi isso, mas ao comprar água, se não entregasse uma garrafa vazia, pagava mais caro.

    São pequenas atitudes que no começo a gente estranha, mas se acostuma tão rápido que é difícil se adaptar quando volta [e eu fui de férias, 40 dias, imagino o choque pra você!].

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  2. Existem alguns mercados bem grandes da rede Interspar (ou Eurospar, não lembro agora) que parecem o Extra e o Carrefour, mas você está certa, a maioria dos supermercados são pequenos e parecem mercadinhos de bairro daqui. A grande diferença é que até nesses mercadinhos de lá era possível comprar uma Leffe, Erdinger, Franziskaner, Edelweiss, Pilsner Urquell, Paulaner, Samichlaus, Urbock, Weihenstephaner, Orval, e outras por 1,5 Euro em média!!!

    Sobre as garrafas de água... em Viena eu bebia água direto da torneira. Orgulho dos vienenses apenas 30% é tratada e o resto desce pura e cristalina dos Alpes. Mas isso só acontece em Viena, porque em Laxenburg, cidade onde eu estudei distante apenas 16km da capital, a água da torneira já não era tão boa.

    Estranhei demais e reclamei muito da falta de sacolinhas de graça. Mas depois que eu me acostumei, eu me amarrei nessa ideia!

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  3. As cervejas... Eu vi Duvel a 0,90 euro em Bruxelas. Quase morro! Queria ter trazido, mas era a primeira semana da viagem, não ia aguentar mais cinco com um monte de cerveja na mochila [vi várias outras, mas a Duvel tem valor sentimental]

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  4. Nossa, essa sacola é fofa mesmo!! Adorei o post, sabia que em Curitiba tem daquelas toalhas de enxugar a mão? Tem na rodoviária, por exemplo, só não tem motorzinho como a do seu video.
    Em Volta Redonda a lei do RJ começa a surtir efeito, já tem supermercado dando o desconto ou fornecendo as retornáveis mediante 10 notas de compra carimbadas, que podem ser obtidas quando não são usadas as sacolinhas. Aqui em SJC o Tenda não dá sacolinhas, se quiser tem que comprar, e o Extra também incentiva o uso de caixas.

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  5. Ah, lembrei de uma coisa, a moeda é devolvida sim, quando vc devolve o carrinho. Uma vez, no Albert, esqueci a danada da sacolinha e saí me equilibrando toda (pão-dura!!). Ainda bem que o ap. era praticamente no outro lado da rua.

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  6. Como faço a compra do mês em atacadista (é mais barato), os dois que costumo freqüentar já estão adotando a medida sem sacolinhas e oferecem caixas de papelão para levar as compras, quando está cheio tem que ficar esperta para conseguir as melhores e maiores caixas ou vc pode optar em comprar sacolas plásticas (maiores e mais resistentes) e a renda é convertida as instituições de caridade. No mês passado comprei algumas e irei reutilizá-las na compra deste mês.

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